Referências Bibliográficas
Autores:
Alcuino de York
Abraham bar Hiyya
Abraham ben Erza
Barthélémy de Romans
Calandri
Jacopo de Firenza
Leonardo de Pisa
Levi ben Gershon
Paolo Dagomari
Nicolas Chuquet
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História da Matemática na
Europa Ocidental
Época Medieval
Quando da queda do Império Romano Ocidental, em 476, devido às
invasões Bárbaras, a Igreja Católica que se tinha expandido e
organizado, durante o Império Romano, conseguiu manter o tipo de vida e
organização social que tinham imperado durante o Império Romano. Muitos dos
reis Bárbaros, acabaram, mesmo, por se converter ao catolicismo.
Nos mosteiros, os monges copistas dedicaram-se à tradução de alguns
autores da Antiguidade Clássica. Também alguns leigos, dedicaram-se aos
estudos dos antigos autores como foi o caso de Boécio (480 - 524), cuja
aritmética foi fonte, durante cerca de um milhar de anos, para o ensino que
se praticava nas escolas ligadas à igreja.
Nos séculos VII e IX, uma nova vaga de invasões assolou a Europa
Ocidental, que provocou profundas alterações na sociedade. As
populações fogem das cidades e refugiam-se nos campos, dando-se início
a uma sociedade do tipo feudal.
Os muçulmanos invadem a Península Ibérica em 711 e os Vikings iniciam, em 787, a sua invasão da Bretanha.
No início do século IX, Carlos Magno, rei dos Francos (que se tinham
estabelecido no território que deu origem à actual França desde o
século V), foi reconhecido pelo papa como unificador do novo Império
Romano do Ocidente. Em 782, Carlos Magno convidou Alcuino
de York para reformular o ensino na sua corte. A Alcuino é atribuída
uma das mais antigas recolhas de problemas matemáticos.
As primeira universidades aparecem pouco tempo depois agregadas às escolas
de mosteiros Dominicanos e Franciscanos. A primeira universidade europeia
apareceu no século IX em Palermo, na Itália. No final da Idade Média, no
século XIII, aparecem novas universidades, como a de Bolonha e Pádua, na
Itália, a de Oxford e Cambridge, em Inglaterra.
No século X, houve um renascimento pelo interesse pela matemática com o
trabalho de Gerbert d'Aurillac (945-1003) que se tornou papa Silvestre
II. Gerbert estudou em Espanha, então ocupada pelos muçulmanos, tendo
provavelmente aí aprendido a sua matemática. Mais tarde este reorganizou a
escola de Reims e reintroduziu o estudo da Matemática.
A matemática grega que era desconhecida em, praticamente, toda a Europa até
cerca do início do século XII; começou a ser traduzida, nessa época,
para latim, essencialmente a partir de fontes árabes. Maior parte deste
trabalho de tradução foi realizado em Toledo, na Espanha.
Nessa altura Toledo tinha sido reconquistada pelos cristãos aos
muçulmanos
e nela florescia uma comunidade judaica, cujos membros conheciam bem o
latim e o árabe.
No século XII, vários judeus escreveram textos originais, embora muitos
deles de inspiração árabe; como foi o caso de Abraham
bar Hiyya e Abraham ben Erza.
No final do século XII, maior parte dos trabalhos gregos e alguns árabes
tinham já sido traduzidos para latim. Estes trabalhos foram assimilados
por toda a Europa e uma nova matemática começou a ser criada pelos
matemáticos cristãos e judeus europeus, como refere Vitor Katz.
O matemático mais produtivo do século XIII foi, provavelmente, Leonardo
de Pisa, que muitos consideram como tendo sido quem introduziu os
numerais indo-árabes na Europa.
No entanto, o primeiro manuscrito, que se conhece
onde aparecem os numerais indo-árabes é o Códice Vigilanus,
escrito, provavelmente, por um monge do convento de Albelda, em
Espanha, em 976. O códice encontra-se actualmente na biblioteca
de San Lorenzo no Escorial. |
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No século XIV outro judeu que se distinguiu foi
Levi ben Gershon.
O crescimento económico das cidades de Itália, como Florença, Veneza e Pisa levou à necessidade de haver pessoas capazes de fazerem cálculos relacionados com
empréstimos e juros, preços de revenda, custos dos seguros das viagens (por terra e por mar), etc. As necessidades económicas levaram à
criação e desenvolvimento de um novo conhecimento comercial que resultou na criação de uma nova instituição educativa: a Botteghe ou Scuole d'abaco (Escola de Ábaco). Estas escolas eram frequentadas pelos
filhos dos mercadores, mas também por pessoas que pretendiam trabalhar em bancos, em serviços públicos ou em escritórios comerciais (por exemplo, de manufactura de roupa ou de construções); estas escolas
eram também frequentadas pelas pessoas que queriam seguir a profissão de pintor (por exemplo, Piero della Francesca frequentou uma escola de Ábaco), escultor ou arquitecto. Os professores, os Maestri d'abaco (mestre de ábaco, ou cálculo) ensinavam, essencialmente a matemática aplicada ao comércio, utilizando o sistema de numeração indo-árabe.
De acordo com
Elisabetta Ulivi, o primeiro mestre de ábaco foi,
provavelmente, Leonardo de Pisa, ao qual o foi atribuído um
salário anual de 20 libras, como consultor de ábaco para a
Comuna de Pisa.
Muitas destes mestres de ábaco passaram a escrito os cursos que ministravam nas suas escolas, na sua língua materna, o italiano vernáculo, de forma a que estes fossem compreendidos por maior parte dos comerciantes, e não apenas pelos letrados que sabiam latim.
De acordo com Horup, o primeiro tratado, conhecido,
escrito em italiano foi o Tractatus algorismi, de
1307, de Jacopo da Firenze.
Um dos primeiros mestres de ábaco a escrever na sua língua materna foi o italiano Paolo
Dagomari. Muitas vezes as aritméticas escritas pelos Mestres de ábaco passavam para os seus
discípulos, que as ampliavam ou simplesmente copiavam. Um dos discípulos de Paolo Dagomari, foi o mestre de ábaco Antonio di Mazzinghi.
Também os irmãos, mestre de ábaco,
Calandri escreveram
várias aritméticas, uma das quais foi a primeira aritmética
impressa contendo ilustrações. A primeira aritmética a ser impressa, em Treviso,
no ano de 1478, embora sendo de um autor desconhecido,
pensa-se que o seu autor era, igualmente, um mestre de ábaco.
A tradição italiana acabou por se espalhar por praticamente
toda a Europa.
O primeiro manuscrito de aritmética
comercial redigido no sul de França, na vila de Pamiers, entre 1420 e
1430, de autor desconhecido, mas provavelmente um homem da igreja, é
denominado Compendi di algorismi, também conhecido pelo
manuscrito de Pamiers. Este compêndio escrito em linguagem vernacular, o
occitan, foi profundamente marcado pelos pelos tratados de ábaco
italianos.
Em Reins encontram-se várias escolas frequentadas pelos
mercadores e homens de negócio. O
Compendy de la pratique des nombres
é uma das muitas aritméticas escritas durante o período medieval no sul da
França. Esta aritmética foi
escrita pelo frade dominicano,
Barthélémy de Romans, em cerca de 1467,
que se pensa que foi, durante algum tempo, mestre de ábaco em Carcassonne. O
livro de Barthélémy influenciou, provavelmente, o de outro francês,
Nicolas Chuquet. No seu manuscrito de Chuquet também utilizou os numerais indo-árabes.
Em Barcelona, na actual Espanha, segundo Xabier Docampo, foi impressa, em 1482, a segunda
aritmética comercial, escrita em catalão, a Summa de l’Art d’Arismètica,
de Francesc Santcliment. Sabe-se que
Santcliment ensinou aritmética em Barcelona e Saragoça entre
1482 e1487.
Na Alemanha, a primeira aritmética comercial impressa, Behende und
hüpsche Rechenung auff allen Kauffmanschafft, foi publicada em1489 e foi
escrita em alemão por um professor da Universidade de Liepzig, Joahnnes
Widman (1462-1500, natural de Eger, actualmente na República Checa).
Última actualização 19-12-2006
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